A educação pública em Cacoal enfrenta um momento crítico. Dados recentes do Ministério da Educação, por meio do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e do Inep, revelam uma queda significativa no aprendizado dos alunos da rede municipal e estadual entre os anos de 2019 e 2023. Os resultados mais preocupantes estão no Ensino Fundamental, especialmente nos anos finais. No 9º ano, apenas 18% dos estudantes atingiram o nível adequado em Língua Portuguesa no último levantamento, uma queda de 12 pontos percentuais em relação a 2019. Em Matemática, o desempenho despencou de 15% para apenas 7%. O 5º ano também apresentou piora: 31% dos alunos tiveram desempenho considerado adequado em Português, ante 39% em 2019, enquanto em Matemática o índice caiu de 22% para 12%.
A avaliação do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) confirma o cenário de estagnação. A nota média do Ensino Médio em Cacoal foi de 4,2, abaixo da meta nacional estabelecida para o período. Apesar da taxa de reprovação estar abaixo de 1%, o que poderia ser interpretado como um indicativo positivo, os números mostram que o problema central está na aprendizagem e não na evasão escolar. Outro fator que agrava a situação é a distorção idade-série: 13% dos estudantes do Ensino Médio estão com dois anos ou mais de atraso em relação à série adequada, o que compromete ainda mais o rendimento escolar e a permanência desses jovens na escola.
O prejuízo pode ser duplo. Além da formação precária dos estudantes, Cacoal corre o risco de perder até R$ 6 milhões em repasses federais vinculados ao FUNDEB, que dependem diretamente do desempenho nas avaliações educacionais. Especialistas alertam que as altas taxas de aprovação escondem um problema mais grave: alunos estão sendo promovidos de série mesmo sem aprender o conteúdo básico.
Especialistas apontam que a queda nos índices tem múltiplas causas, como os efeitos prolongados da pandemia, falhas na recuperação do conteúdo perdido, falta de investimentos consistentes na formação de professores e ausência de estratégias eficazes de reforço e acompanhamento da aprendizagem. Diante dos dados, a reportagem procurou a Secretaria Municipal de Educação para comentar o cenário. A secretária Márcia Antunes reconheceu os desafios apontados, mas também destacou que parte dessas informações pode não refletir os avanços mais recentes.
“Agradeço pelo contato e pelo interesse em abordar a educação do nosso município. Sim, reconhecemos que os dados da plataforma QEdu são baseados em fontes oficiais como o INEP/SAEB/Censo Escolar e podem trazer contribuições importantes para o debate. No entanto, é importante lembrar que esses dados têm um certo atraso em relação à realidade atual, e nem sempre refletem as melhorias mais recentes que estamos implementando na rede municipal. A Secretaria de Educação tem feito avanços significativos nos últimos anos, tanto na estrutura física das escolas quanto nos indicadores de aprendizagem e equidade. Ficamos à disposição para fornecer informações complementares ou mesmo agendar uma conversa, caso queira apresentar um retrato mais atualizado da nossa educação. Conte conosco”, afirmou a gestora.
Apesar dos esforços mencionados pela Secretaria, os dados oficiais mostram que a rede pública de ensino em Cacoal ainda enfrenta sérios obstáculos na garantia do direito à educação de qualidade. O momento exige respostas urgentes e coordenadas do poder público, da comunidade escolar e da sociedade civil, com foco na recuperação da aprendizagem, valorização dos profissionais e melhoria efetiva do processo de ensino.